Uma ideia de escola a partir da cidade
Projetar uma escola é uma oportunidade de refletir sobre o saber, sobre a capacidade de reunirmos as melhores condições que o intelecto nos reserva ao longo de séculos de história. A condição coletiva do ensino, com a somatória de aportes individuais, assim como a coletividade urbana, conscientiza a ação do homem no meio em que se insere. Propomos, desse modo, que o lugar do ensino inspire a si mesmo e ao entorno como condição primeira, a fim de proporcionar a construção de saberes que a vida cotidiana e sua imprevisibilidade nos apresenta. Para tanto nos atemos ao potencial da arquitetura escolar a partir dos vínculos urbanos, das sutis relações da cidade como agente dinamizador entre o ensino e a prática.
Diante dessa premissa, entendendo a escola a partir da cidade, nos coube a refletir sobre o programa da educação em arquitetura. Se por um lado o isolamento do ambiente escolar garante um espaço propício à concentração dos estudos, um oásis dentro da cidade, por outro desvincula-se muitas vezes da condição urbana do edifício.
Assim, a tipologia da proposta procura remeter aos dois repertórios anteriores – como proporcionar a reclusão necessária com a exposição requerida da cidade?
A articulação entre as esferas pública e privada passa pela disposição da edificação próximo do limite do lote, potencializando o condensador social da escola com as boas práticas urbanas. O modelo passa a considerar o ponto de contato da cidade, o pavilhão conector das circulações, como o grande ponto de movimento do programa; uma espécie de prisma translúcido que ao mesmo tempo isola e remete ao exterior. A parte da concentração, da reclusão, fica ao pátio descoberto. Um amplo espaço abraçado pelos pavilhões da escola. Este é o momento do oásis, da liberdade aos rumores externos.
Dessa forma, se obtém um contexto de legibilidade entre escola e cidade, entre o contato e a reclusão, entre o saber teórico e o prático.
A dimensão escolar
A unidade escolar aqui proposta possui em sua estrutura 20 salas de aula, sendo 11 unidades aos alunos de 1 a 3 anos e 9 unidades aos alunos de 4 a 5 anos, totalizando 545 alunos. O restante do programa se ateve à proporção do número de salas, como exemplo dos pátios e do parque, assim como do refeitório e auditório. Procurou-se manter uma boa densidade de alunos com pouco verticalização, otimizando os planos dos pavimentos.
Os aspectos plásticos, éticos e estéticos do projeto remetem ao uso racional dos elementos constituintes, da adequação à acessibilidade universal e da exequibilidade rápida de sua construção.
Os materiais utilizados possuem uma integridade física durável, sendo apresentados em sua aparência natural, capazes de envelhecer com dignidade, pontos interessantes em termos de manutenção. A estrutura básica é feita com pilares, vigas e lajes alveolares de concreto pré-fabricado, somando-se à leve estrutura metálica que perfaz os eixos de circulação dos pavilhões, garantindo um aumento de pé-direito e janelas altas que permitem uma boa troca de ar. No ginásio, a treliça plana apoiada nos pilares pré-fabricados de concreto completa a lista estrutural.
Das soluções passivas de conforto térmico, observa-se que, além das janelas altas nos corredores, o trabalho da estrutura do pilar, marcadamente locada a uma distância das janelas das salas de aula, formata um quadro juntamente com as vigas que impede, de certo modo, uma insolação brusca ao ambiente interno. Para a área administrativa, a opção dos brises de madeira é escolhida devido às aberturas direcionadas à intensa luz solar do Oeste. O maciço arbóreo garante, por sua vez, uma proteção extra às salas deste pavilhão.
Estrutura programática
A leitura do programa sugere uma clareza projetual no que tange as grandes áreas. Assim se apresenta a distribuição espacial do edifício. A função pedagógica foi dividida. A parte destinada as salas de aula fica localizada logo no pavimento de entrada, otimizando a circulação dos alunos nos horários de pico. A parte das salas destinadas a um uso mais pontual, como do laboratório, brinquedoteca, multiuso etc., foram dispostas no pavimento inferior, de frente à “praça” (parque e pátio descoberto), remetendo o espaço às atividades extras e dinâmicas, onde tais salas podem se “estender” ao ambiente externo. Implantado ainda neste pavimento inferior a parte da função recreativa e do ginásio coberto, que fecha a grande praça central. A função de serviços completa o pavimento, locada de maneira estratégica perto do acesso do portão do estacionamento.
No pavimento de entrada, além das salas de aula já mencionadas se encontra o corpo do auditório da as funções administrativas, abrigadas pelo pavilhão que remete ao limite físico urbano. Um extenso eixo de circulação liga as partes, desde da entrada apoiada numa praça ao acesso do auditório. As salas da administração percorrem o eixo, tornando presença importante e clara ao funcionamento geral da escola. Os dois acessos inseridos preveem a máxima flexibilização da edificação à usos que vão além das atividades diárias escolares; como o caso do auditório que poderia vir a se abrir aos finais de semana para terceiros e outras requisições mais corriqueiras, como dos familiares e prestadores de serviços entrarem em contato com a secretaria. Este pavilhão coringa distribui e controla toda a circulação da escola, adequando o programa de necessidades de acordo com o partido arquitetônico de integração e reclusão urbana, intensidade e repouso.