CIDADE 
O desafio e o prazer de projetar edifícios vai além das complexidades imanentes do objeto arquitetônico. O olhar que vagueia a cidade necessita encontrar neste cenário urbano algo que represente, que o situe no mundo. Pensar um edifício qualquer, sobretudo este residencial, é um dos modos mais importantes e pertinentes de se fazer cidade.  
Esta introdução aponta o partido arquitetônico dessa proposta, somado aos valores que o próprio edital do concurso emula. A oportunidade de se fazer cidade olhando dentro dela. Assim, a responsabilidade do arquiteto e do incorporador não pode passar ao largo da natureza urbana dos edifícios. Neste sentido que a interpretação do programa procura salientar condições cotidianas dessa vital relação entre a parte e o todo, estimulando singelos discursos como da transição suave entre o público e privado no acesso ao edifício; e da porosidade visual que permite explorar perspectivas da cidade, como no pavimento térreo, tanto na parte do estacionamento de veículos quanto no salão de festas. Ali, o cotidiano se descortina, interna e externamente, sem a necessidade de uma ruptura abrupta entre as partes. O controle por uma possível guarita foi substituído por uma sala de segurança anexada ao corpo principal da edificação. A entrada próxima da esquina valoriza o desenho público, pontuando levemente a sua inserção como continuação do espaço externo. 
Outro ponto do projeto que segue as diretrizes aqui discutidas é a área permeável. A ideia de uma bairro mais colaborativo e saudável encontra nesse espaço um gesto de gentileza urbana como exemplo possível de encararmos uma saudável relação espacial entre o público e o privado.  Delimitando as frentes das ruas Pará e Mato Grosso, o jardim contorna a base do pavimento térreo, contrastando com a empena cega da construção vizinha à última rua. Na porção da rua Mato Grosso, árvores de grande e médio porte serão plantadas; na porção da rua Pará, arbustos e árvores de pequeno porte são os destaques. 
HABITAÇÃO 
Ao todo, 51 unidades habitacionais foram implantadas em 8 pavimentos. A proposta foi locar os apartamentos em dois tipos (T1 e T2). No tipo 1, 9 apartamentos, dois dos maiores e 6 dos menores – 70m2 com duas e uma suíte (neste último, a ideia é de uma apartamento com características de estúdio); os menores ficaram de 50m2 com uma suíte (4 unidades) e 51m2 com uma suíte e um dormitório que pode ser eliminado (2 unidades). 
No tipo 2, 5 apartamentos, todos eles maiores – uma unidade de 70m2 que se repete nos 8 andares, 3 apartamentos com 75m2 dispondo de 2 suítes e um apartamento de 75m2 com uma suíte e dois dormitórios. Todas as unidades possuem varanda. 
A flexibilidade do arranjo dos apartamentos parte de uma premissa estrutural. As divisórias leves se distribuem sob as vigas que se ligam às marcantes linhas verticais dos pilares (ver esquema ao lado). Do esqueleto estrutural partem as prumadas hidráulicas, estrategicamente locadas – as áreas úmidas entram em sintonia com esta lógica. Grandes aberturas ao exterior e controle solar, notadamente da fachada oeste, forma o desenho das faces juntamente com as linhas mais técnicas descritas acima. 
O que sobressai é um desenho limpo, revelador das partes componentes e que permite que o ambiente urbano participe deste cenário, como sugere as áreas comunais da circulação horizontal dos apartamentos. Convidativas varandas se abrem ao mundo exterior, criando um jogo de luz e sombra destacado. 
CONDOMÍNIO 
As áreas comuns do edifício guardam uma surpresa. Se a área de festas se localiza no pavimento térreo – atentando-se ao movimento que tal programa sugere de visitantes –, as áreas ligadas a atividades do lazer estão locadas a partir do sexto pavimento. Uma “caixa” de vidro disposta entre os apartamentos maiores recebe o seguinte programa: academia, sala de jogos e sauna. Uma sequência de escadas metálicas ligam os pavimentos internamente à caixa. Assim, há uma continuidade clara entre estas atividades e o ático, que recebe a piscina, conectado também ao fluxo vertical. Desse modo, a sauna é facilmente acessada por quem está na piscina e também na academia – poupando de certa maneira o uso constante dos elevadores ao uso comum. 
A decisão de locar o lazer no alto vem ao encontro de liberar o terreno a uma ocupação mais densa, sobretudo, ao considerar a alta taxa destinada para área permeável. 
Espera-se que a disposição programática da edificação espelhe a vida urbana em suas constantes idas e vindas, descobertas e prazeres de um cenário porvir.